O último bastião da privacidade

O site da Discover Magazine tem um blog chamado “Not Exactly Rocket Science” (clique aqui) que trata de jornalismo científico e seleciona periodicamente os melhores artigos que divulgam a ciência. Na última seleção ele menciona um artigo sobre escaneamento cerebral que achei interessante e quero compartilhar um resumo dele com os leitores deste blog.

O artigo intitula-se “What do you get when you put a terrorist inside of a brain scanner?” (O que você consegue quando coloca um terrorista num imageador cerebral?) e foi escrito por Virginia Hughes (leia aqui). O artigo fala do potencial que os militares vêem nas novas tecnologias de escaneamento cerebral – entre elas a ressonância magnética funcional – para substituir as técnicas tradicionais de obter informações de suspeitos, como soros da verdade, polígrafos e torturas diversas. A ideia dos militares é utilizar o escaneamento enquanto o réu está sob interrogatório para descobrir o se ele diz a verdade ou mente.

A autora concorda com a posição de profissionais que lidam com bioética, segundo a qual o escaneamento cerebral é não só ineficiente para essa tarefa a que os militares o propõem, como também é um tratamento abusivo dos prisioneiros de guerra. Ela menciona duas razões mais importantes para não adotar a prática recomendada pelos militares. A primeira diz respeito ao desempenho da técnica para diferenciar a mentira da verdade, que foi medido em experimentos com voluntários. Os experimentos foram feitos com base em estudos que mostram que, quando mentimos, uma parte de nosso córtex pré-frontal apresenta maior atividade. O índice de acerto médio foi de 70 a 80%, quando se lembra que um palpite aleatório tem 50% de chance de acertar. Além do mais, trata-se de um desempenho médio de um grupo de indivíduos. As pessoas têm comportamentos diferentes quando submetidas à mesma situação.

A segunda razão diz respeito às condições dos experimentos. Elas não refletem a situação real de estresse a que são submetidos os suspeitos. Sabe-se que, sob grande ansiedade, um indivíduo pode ter aquela região do cérebro acionada tanto quanto ao contar uma mentira.

Ao final a autora acha que o emprego da técnica de escaneamento cerebral para obter informações de suspeitos é uma perda de tempo e recursos e alerta para um problema maior: uma vez que o método pode funcionar para alguns indivíduos isto pode ser utilizado como justificativa para determinar a quem torturar. A questão é relevante e precisa ser mais debatida.

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