Freud não explica

Às minhas amigas psicólogas Renata e Ana Beatriz

A hora do sono é sagrada. É o descanso do guerreiro, dizem. Que nada! É quando começam as aventuras mais mirabolantes que nos deixam mais exaustos do que um dia inteiro de trabalho. Exaustos e, muitas vezes, assustados por culpa dos sonhos estranhos que nos perseguem.

Andar nu pela cidade é coisa corriqueira numa noite mal dormida. Na pressa para se vestir, a roupa não entra no corpo e todos estão observando e rindo. Já tentei dormir com dois pijamas mas não deu resultado, acabo sempre na mesma situação embaraçosa desse sonho recorrente.

E ser ameaçado por um animal feroz? É tão comum quanto ser abordado por um ladrão. As pernas não obedecem e o grito fica preso na garganta, só sendo ouvido por quem está dormindo ao lado. Por que nunca me lembro de sacar o 32 que guardo debaixo do travesseiro?

Já me estressei muito com o sonho da prova na escola. É dia de prova e eu não me preparei para ela. Pode ser na faculdade, no colégio ou até no primário (hoje, fundamental, mas não importa, a tensão é a mesma). Já tentei me preparar antes de dormir lendo livros sobre Física, Matemática, História, Geografia, Literatura, mas nunca dá certo porque acabo adormecendo na primeira página e despreparado para a prova que virá na madrugada.

Gosto muito de praticar tênis e futebol, mas no sonho esses esportes se tornam uma tortura. Os braços e pernas, rígidos, não obedecem e a bola parece um alvo arisco que nunca é alcançada. De nada adianta a meia-hora de alongamento que faço antes de dormir.

Por essas e outras eu pergunto: O que significa esse martírio todo? Pode a nossa mente ser tão maligna a ponto de pregar essas peças em nós mesmos? Os especialistas dirão que Freud explica, mas eu digo que ele não explica coisa alguma. Eu, sim, explico!

Tempos atrás escrevi um texto sobre alienígenas (Deletem os alienígenas) e agora tenho minhas convicções reforçadas. Naquele texto falei sobre o meu projeto PAI (Procura de Alienígenas na Internet) e agora tenho evidências de que eles utilizam esse novo método de abordagem durante o nosso sono. Na calada da noite, eles aguardam a nossa fragilidade da inconsciência durante o sono para nos abduzir. Sim, eles estão nos abduzindo. Só pode ser isso!

Por isso eu recomendo que não tomem pílulas para dormir. Tomem pílulas para permanecer acordado. Utilizem qualquer método para não dormir. Por exemplo, gravem os programas de campanha eleitoral e os reproduza à noite em alto volume. Pensando bem, é melhor não fazer isso porque os candidatos podem ser eles próprios alienígenas.

Se conseguirem, tenham uma boa noite!

Triângulo amoroso

         Em dezembro passado foram divulgados os resultados das análises feitas com os fósseis encontrados na caverna Denisova, na Sibéria (Leia mais aqui e aqui). Surpreendentemente, os resultados indicam que se trata de uma outra espécie de hominídeo que teria convivido com os Neandertais e o Homo sapiens. Os representantes dessa nova espécie foram chamados de Denisovans – em referência à caverna onde os fósseis foram encontrados – e concluiu-se que eles são parentes mais próximos dos Neandertais do que do Homo sapiens. Não tão surpreendente foi a conclusão de que essa espécie também teria se cruzado com o Homo sapiens, assim como o fizeram os Neandertais. Essa miscigenação produziu o homem moderno em cujo genoma prepondera o DNA do Homo sapiens mas que, agora se sabe, tem contribuições do Homem de Neandertal e do Homem de Denisova. Alguém mais vai aparecer para reivindicar paternidade? Não se sabe.

         Se é difícil saber o que aconteceu no passado, mais ainda será saber o que virá no futuro. Sabe-se que o fator geográfico é muito importante para a diversificação das espécies. Exemplares da mesma espécie, quando isolados geograficamente, evoluem de forma independente gerando espécies diferentes. Foi o que aconteceu no passado e poderá se repetir no futuro.

         Com o avanço tecnológico da nossa espécie, não é improvável que o homem deixe a Terra para colonizar outros mundos. Novas descobertas da astronomia (mais detalhes aqui) indicam que o número de planetas em nossa galáxia pode ser extremamente grande, o que aumenta as chances de se encontrar algum em que haja vida ou que pode hospedar a vida vinda de fora. Mesmo que isso não venha a acontecer, o homem poderá criar artificialmente as condições para sobreviver em um ambiente hostil.

         Então, quando a nossa civilização sair da Terra e colonizar outros planetas, estarão criadas as condições de isolamento para que a evolução trabalhe independentemente em várias frentes. Numa escala de tempo adequada, novas espécies de humanos vão se disseminar pela galáxia e, eventualmente, algumas vão se encontrar, como o fizeram os Neandertais, Denisovans e humanos modernos. Outras vão perder contato com as demais em razão da grande dificuldade de comunicação e do alto custo das viagens espaciais.

         Nesse cenário, é bem possível que o primeiro encontro de um humano com um alienígena seja surpreendente para ambas as partes, quando perceberem que são parentes distantes. Nem por isso o cruzamento e o aniquilamento deixarão de ser inevitáveis. Ou não?

O alienígena e o vírus da gripe

         Duas notícias da área científica circularam na mídia recentemente. A primeira aconteceu em outubro passado quando foram divulgados resultados otimistas da pesquisa para a produção de uma vacina universal contra a gripe. A segunda foi a divulgação, nos últimos dias, da descoberta da bactéria GFAJ-1, capaz de substituir o elemento fósforo pelo elemento arsênio, em seu DNA, e em outras moléculas de sua célula.

         O que as notícias têm em comum? Nada, tirando o fato de que ambas se referem a resultados obtidos por mentes brilhantes. A primeira trata de uma pesquisa que vem sendo feita há muito tempo para se desenvolver uma vacina universal contra a gripe, que evite que as pessoas sejam vacinadas todos os anos para ficar imunes às frequentes mutações do vírus. Uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina Mount Sinai, dos EUA, identificou uma parte imutável do vírus da gripe e desenvolveu a vacina para atuar sobre ela, imunizando o indivíduo contra qualquer mutação daquele vírus. Testes feitos em ratos foram bem sucedidos e em futuro próximo ela poderá vir a ser testada em humanos.

         A segunda pesquisa foi feita por uma equipe de pesquisadores da NASA, com a bactéria GFAJ-1, encontrada no Lago Mono, na Califórnia. A pesquisa consistiu em desenvolver uma cultura daquela bactéria em um ambiente com grande concentração de arsênio. O experimento mostrou que a bactéria não só conseguiu se adaptar ao meio como alterou a sua estrutura interna, substituindo o elemento fósforo (escasso no ambiente do experimento) pelo arsênio (abundante no experimento) na estrutura do seu próprio DNA. Isto é inusitado, pois todos os seres vivos conhecidos utilizam apenas seis elementos em seu DNA: carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Se os resultados da pesquisa forem confirmados, a bactéria GFAJ-1 é o primeiro ser vivo a prescindir de um dos seis elementos considerados fundamentais para a vida.

         Quero dar destaque às diferentes repercussões que as notícias tiveram na mídia. Enquanto que a primeira foi assunto quase exclusivo de revistas especializadas, salvo breves menções nos meios de comunicação, a segunda foi noticiada exaustivamente nos jornais, revistas e televisão e debatida calorosamente na Internet. À primeira vista, parece que deveria ser o contrário. Afinal, estamos esperando, há muito tempo, uma vacina contra a gripe, que acabe com esse desconforto que quase todos nós experimentamos todo ano e que, em muitos casos, se transforma em coisa mais séria. O que nos interessa uma bactéria que usa arsênio em lugar de fósforo? Nem sabemos bem o que é uma coisa e outra!

         A mídia teria se enganado ao dar destaque à segunda mais do que à primeira? Certamente não! E a explicação está no fato de que as pessoas têm uma especial atração por assuntos que tratam de vida fora do nosso planeta, de alienígenas. A pesquisa com a bactéria tem tudo a ver com esse assunto pois, como foi exaustivamente divulgado, se um organismo vivo conseguiu se adaptar a um meio hostil, como aquele saturado de arsênio, alterando a sua própria estrutura genética, fica mais plausível encontrar vida em outros planetas que não têm exatamente as mesmas condições da Terra. (Alguns jornais americanos mais sensacionalistas chegaram até a chamar a bactéria de alienígena.) Enfim, se os resultados da pesquisa forem confirmados, a criação da vida parece ser um episódio menos improvável do que se supunha e ele pode muito bem ter acontecido em outros mundos.

         O que é uma simples gripe comparada com um encontro com seres de outros planetas? O que não se espera é que eles tragam consigo novas formas de vírus.