O título acima é de um livro escrito por Apostolos Doxiadis que me foi emprestado pelo filho de um amigo, leitor deste blog. É uma história de ficção, com alguns personagens reais, sobre um assunto que tem muito a ver com os temas aqui tratados, e que me empolgou a ponto de comentá-la neste blog. Não vou contar a história para não estragar o prazer de quem quiser ler o livro. Vou apenas comentar algumas passagens que dão uma ideia geral do roteiro.
O enredo trata de um matemático, tio Petros, que dedicou a sua vida a provar a conjectura de Goldbach. Em matemática, uma conjectura é uma afirmação que ainda não foi provada; todos os fatos conhecidos (exemplos) atestam a favor da conjectura, mas não se tem certeza que ela nunca será contrariada por algum exemplo exibido por um desmancha-prazer. A conjectura de Golbach diz que: qualquer número par maior do que 2 é a soma de dois números primos. Exemplos: 4=2+2; 6=3+3; 8=3+5 etc. Ela foi enunciada em 1742 e até hoje ninguém conseguiu provar que é verdadeira, isto é, que vale para qualquer número par.
O autor do livro nasceu na Austrália e foi criado na Grécia, tendo feito um curso universitário de matemática antes de se dedicar ao cinema e à literatura. Ele tem, portanto, o perfil para captar as nuances da vida acadêmica de um matemático e colocá-las numa história de ficção. E ele fez isso com maestria nesse livro.
Petros Papachristos, ou tio Petros (porque a história é narrada pelo seu sobrinho), é considerado a ovelha negra de uma família de homens de negócio por ter se dedicado à matemática ao invés de seguir a profissão de seu pai e de seus irmãos. Como matemático de grande talento, demonstrado desde a infância, ele resolveu se dedicar a resolver um dos grandes problemas matemáticos ainda sem solução e escolheu a tal conjectura de Goldbach.
Em sua caminhada para provar a conjectura ele cruza com outros matemáticos famosos (estes reais), como Kurt Gödel, Alan Turing e G. H. Hardy, que acabam tendo grande influência em sua vida. Os dramas pelos quais tio Petros passa, em sua obstinada busca de uma prova para a conjectura, são descritos de forma habilidosa, pelo autor, fazendo o leitor sentir os prazeres de uma descoberta genial tanto quanto as decepções de uma tentativa fracassada.
O autor descreve bem a intolerância da família para com a profissão do tio Petros, contrapondo as profissões que têm alguma utilidade (segundo a família) com a de professor, escolhida por ele. “É necessário traçar metas atingíveis para as nossas vidas”, diziam seu pai e irmãos, não acreditando que Petros considerasse uma meta atingível demonstrar a conjectura.
Outra passagem interessante é a explicação que um colega de Petros, também matemático, dá para os problemas mentais a que geralmente são acometidos os gênios, seja nas ciências ou nas artes ou em qualquer outra área. Segundo ele, essas pessoas chegam demasiadamente perto da verdade e esse sentimento é muito forte para que suas mentes possam suportar, “…como mariposas, ficam muito encantados com a luz brilhante, chegam muito perto, queimam suas asas e morrem”.
Trata-se de um livro simples, bem escrito, que vale a pena ser lido por matemáticos e não matemáticos. É para ler num só fôlego. Se você já leu deixe seu comentário aqui.
Quero agradecer a alguns amigos, leitores deste blog, que deduziram o meu gosto em literatura (é claro, dei algumas pistas nos artigos que publiquei) e me indicaram livros interessantes. Em primeiro lugar, Artur Coutinho (filho) que me emprestou o Tio Petros. Também José Falcete que indicou-me Big Bang: a origem do universo, de Simon Singh, que já comprei e estou lendo, e gostando muito. Patrícia Fronzaglia, que indicou-me A linguagem de Deus, de Francis Collins, que já comprei mas ainda não li. Por favor continuem mandando sugestões.